Panorama de Riscos do Covid-19: Desafios Atuais e Consequências Futuras

O relatório de Panorama de Riscos do COVID-19 "Mapa Preliminar e suas Implicações" do FEM, publicado em 19 de Maio e fundamentado pela opinião de quase 350 profissionais e risco experientes, identificou as principais preocupações e consequências emergentes, analisando as implicações e os efeitos da pandemia. Isso vai além da resposta imediata à crise, fornecendo visões sobre os cenários de risco global atual e futuro.

Equilibrando o Medo e o Otimismo

A duração e a extensão da atual crise econômica dependerão da solução da crise na saúde com uma estratégia de saída envolvendo uma combinação de uma vacina eficaz e amplamente disponível e medicamentos terapêuticos. Enquanto isso, os governos de todo o mundo estão tentando administrar o delicado equilíbrio entre o controle da transmissão e o retorno de algumas pessoas à atividade econômica. Os riscos são altos, não só nos óbvios impactos à saúde e à economia dos erros, mas também na gestão da percepção do público quanto ao risco.

Sir John Templeton, o investidor britânico, banqueiro, gestor de fundo e fundador do fundo Templeton Growth, certa vez afirmou: "O maior erro no investimento é pensar que desta vez será diferente", mas desta vez é realmente diferente. A diferença é que esta crise econômica está atrelada a uma crise de saúde e as pessoas estão temendo por suas vidas. O desafio é voltar ao "novo normal" e conciliar nossos medos naturais com a aceitação das incertezas, auxiliados por uma arquitetura de gestão de risco que ajude a administrar as trocas compensatórias.

Nossos receios são reais, reforçados pelas mensagens do Governo, os dados divulgados diariamente sobre as taxas de infecção R0 e a triste realidade dos números reais de mortes pelo Covid-19, em particular os dados sobre "excesso de mortalidade" que só agora estão se tornando públicos¹. Essas preocupações têm levado a comportamentos públicos que estão controlando a transmissão e reduzindo as mortes em muitos países, mas precisamos agora ter cautela para encontrar formas, especialmente no meio empresarial, de permitir à sociedade adaptar-se e administrar de forma responsável a falsa dicotomia da saúde pública e da estabilidade econômica.

Interdependências de Risco

Essas crises também destacam as interdependências dos riscos globais desencadeados pela pandemia de COVID-19. Não se enganem, estamos vivendo um evento histórico que mudará muitos aspectos do mundo em que vivemos: a geopolítica, o impacto econômico em muitos setores da economia, o cenário empresarial competitivo, os impactos sociais a longo prazo, como um aumento da desigualdade, os comportamentos dos consumidores, a natureza do trabalho, e o papel da tecnologia, tanto no trabalho como em casa.

Os riscos econômicos são os mais prováveis e preocupantes, especialmente o risco de uma recessão prolongada da economia global. Por si só, isso não é surpreendente, uma vez que relatórios recentes do FMI mostram que os impactos econômicos globais se intensificaram desde a previsão do FMI no mês passado². Estes riscos econômicos também têm implicações e ligações ambientais, sociais e tecnológicas abrangentes. Um aumento do endividamento, tanto público como privado, inevitavelmente levará algumas empresas à falência e desafiará a eficácia dos atuais sistemas de proteção social, o seu financiamento e a poupança privada em geral.

Além dos perigos para a saúde pública, a pandemia e os bloqueios e paralisações resultantes podem ter efeitos duradouros nas pessoas e nas sociedades. O nível elevado de desemprego estrutural possivelmente afetará a confiança dos consumidores e a rapidez da recuperação econômica, bem como aumentará a desigualdade, os problemas de saúde mental e a falta de coesão social. Também pode haver um aumento na disparidade de riqueza entre gerações, bem como desafios significativos ao emprego e à educação, gerando o risco de uma segunda geração perdida³.

Uma das consequências mais importantes para o mundo de uma crise global como o COVID19 é ignorar outros riscos existentes no mundo. Em particular, uma carência de medidas para enfrentar os riscos de sustentabilidade, especialmente a adaptação às mudanças climáticas e a mitigação das mesmas4. À medida que os países saem da crise de saúde imediata e retomam suas economias, as mudanças nas práticas de trabalho e nas atitudes em relação a viagens, deslocamentos e consumo podem facilitar a procura de oportunidades de negócio para capitalizar uma recuperação menos poluente e mais sustentável5. Permitir que a sociedade se adapte e retome as atividades de forma responsável, limpa e sustentável e o desenvolvimento através do crescimento sustentável, com as pessoas e comunidades no centro da sociedade.

Embora a tecnologia tenha sido essencial na forma como as pessoas, as empresas e os governos têm administrado a crise do COVID-19, ela também desafia a relação entre tecnologia e governança, com a desconfiança ou o uso indevido da tecnologia podendo ter efeitos duradouros na sociedade6. A distância está de volta; as fronteiras voltaram, assim como as comunidades locais, mas a tecnologia está permitindo um retorno a um mundo mais globalizado novamente. Estamos vendo a tecnologia permitir a economia sem contato, como a telemedicina, o varejo online e entregas com distanciamento social, como o "click and collect". Novas oportunidades de negócios e emprego estão sendo criadas nestes setores, mas uma maior dependência da tecnologia também aumentou os riscos cibernéticos.

Considerações sobre Negócios e Políticas

Em um momento de grande incerteza, governos e empresas estão tomando decisões que determinarão como esses riscos ou oportunidades surgirão e se desenvolverão. Entre eles, destacam-se:

• Até que ponto gerimos as trocas compensatórias operacionais com uma volta rápida ao trabalho, mas ainda assim protegemos os nossos funcionários, clientes e a sociedade como um todo?
• Nesse momento de mudança para o nosso negócio, com mudanças nas estruturas industriais e posições competitivas, como é que, além de sobreviver, encontramos um lado positivo?
• Como podemos acelerar nossos compromissos com a sustentabilidade e conduzir uma transição para a baixa geração de carbono?
• Como o comportamento dos consumidores mudará em nosso setor e como isso afetará nossas propostas e a forma como as implementamos?

Para gestores de risco e empresários, além de todas as atividades atuais de gestão de risco desenvolvidas para proteger funcionários e clientes na crise imediata, há uma série de recomendações de como lidar com essa incerteza futura.

• Modelagem e análise de cenários: Aplicar as habilidades desenvolvidas na modelagem de cenários econômicos ao Covid-19, usando uma série de cenários que explorem como o futuro pode se desenrolar para criar respostas ágeis.
• Incluir cenários nos modelos de risco existentes para entender os impactos das diferentes taxas de recuperação sobre os riscos comerciais, operacionais, de crédito ou de mercado.
• Dividir suas equipes; uma equipe para gerenciar as consequências imediatas do Covid-19, focada na retomada dos negócios. Uma segunda equipe para planejar o futuro e encontrar novas oportunidades à medida que o cenário competitivo e os comportamentos dos clientes mudam.
• Garantir que medidas apropriadas sejam tomadas para proteger os patrimônios físicos e outros bens que estão atualmente ociosos, ou que foram reaproveitados, para que possam ser utilizados rapidamente quando as atividades comerciais normais forem retomadas.

 

¹ Artigo da BBC News por Robert Cuffe, Chefe de Estatística: “Coronavirus: How Many People Have Died in the UK?” https://www.bbc.com/news/health-52623141
² Artigo da FT por Jonathan Wheatley, de 12 de maio de2020: “Global economic outlook still worsening, says IMF”
³ Artigo do The Herald Scotland de 6 de maio de 2020 por Alistair Grant: “Coronavirus in Scotland: Warning over “lost generation” of vulnerable children”
⁴ FMI. 2020. Rastreador de Políticas. Fundo Monetário Internacional. 1º de maio de 2020. https://www.imf.org/en/Topics/imf-and-covid19/Policy-Responses-to-COVID-19#J
⁵ Artigo da BBC por Roger Harrabin de 6 de maio de 2020: “Climate change: Could the coronavirus crisis spur a green recovery?” https://www.bbc.com/news/science-environment-52488134
⁶ Artigo da BBC News por Cristina Criddle e Leo Kelion de 7 de maio de 2020: “Coronavirus contact-tracing: World split between two types of app” https://www.bbc.com/news/technology-52355028