Admirável mundo novo

Proteção da força de trabalhoArtigo10 de junho de 2020

Como criar resiliência individual depois do Covid-19

Compartilhe isto

Quando sairmos da crise imediata, como será nossas vidas? Essa é a resposta que todos nós queremos. O filósofo dinamarquês Søren Kierkegaard uma vez disse: "A vida só pode ser compreendida olhando-se para trás, mas só pode ser vivida olhando-se para frente." Em outras palavras, devemos nos concentrar no futuro.

O tempo nos trará uma perspectiva do Covid-19, assim como o fez com a crise financeira de 2008, mas primeiro temos de olhar para o futuro, planejar a recuperação e criar resiliência para garantir que estamos preparados para o próximo desafio, seja ele as mudanças climáticas, a biodiversidade, os ataques cibernéticos, ou até mesmo outra pandemia.

Uma coisa é certa: o impacto a longo prazo do Covid-19 será diferente para cada um de nós. Dependendo das nossas vidas e carreiras antes da pandemia, e do país onde vivemos, alguns de nós estarão melhor protegidos do que outros.

Os efeitos que podemos esperar do Covid-19 serão físicos, mentais, sociais e financeiros. Algumas pessoas sofrerão todos estes efeitos, outras uma combinação deles ou apenas um. Mas nenhum de nós será poupado, e as implicações para a saúde e proteção da força de trabalho são profundas.

Uma pesquisa do Grupo Zurich Insurance (Zurich) e da Escola Smith de Negócios e Meio Ambiente da Universidade de Oxford (Oxford) demonstrou que o mundo do trabalho já está mudando rapidamente. Ele está cada vez mais não linear, fragmentado e propenso a carências e vulnerabilidades.

Trabalhadores informais, trabalhadores de meio período, economia solidária e aumento de pessoas que mudam de emprego: tudo aponta para um mercado mais fluido e incerto, com riscos significativos para as finanças e a saúde mental dos trabalhadores.

O Covid-19 agrava e acrescenta a estes riscos, reforçando a necessidade dos tipos de proteção financeira destacados em estudos como o de Percepções da Proteção da Zurich-Oxford.

A saúde física e mental e a segurança financeira garantidos por um emprego confiável são agora mais importantes do que nunca. O Covid-19 demonstra como a vida pode mudar num instante – a saúde física, certamente – e que basta um evento para a perda de renda, a interrupção da carreira ou um estresse mental grave.

Em um comunicado à imprensa emitido em meados de maio, a Organização Mundial da Saúde destacou que devemos aumentar urgentemente os investimentos em serviços de saúde mental ou arriscar um aumento massivo dos problemas de saúde mental devido à pandemia.

De acordo com a Mind, uma instituição beneficente de saúde mental, as empresas do índice FTSE 100 que priorizam o engajamento e o bem-estar dos funcionários têm desempenho 10% melhor que as demais empresas do mesmo índice. Além disso, a organização Engage for Success, que promove o engajamento dos funcionários, descobriu que as empresas que se concentram no bem-estar verão um aumento considerável na lealdade e no comprometimento da sua força de trabalho.

Se há um aspecto positivo do Covid-19, é a resposta humanitária de muitas empresas e comunidades, apoiada pelos enormes programas de assistência liderados pelos governos para proteger vidas e empregos. Além de apoiar seus funcionários, empresas como Zara, Nivea e Dyson até mudaram a produção para fabricar desinfetantes e equipamentos médicos e de proteção essenciais.

Isto diz muito sobre a responsabilidade coletiva pelo bem-estar de cada membro da sociedade e como o futuro do trabalho está na gestão de riscos e na criação de resiliência individual através de uma abordagem das diversas partes interessadas.

A partir de estudos sobre os efeitos de pandemias anteriores, como as de SARS e MERS, sabemos que o Covid-19 é capaz de aumentar os níveis de ansiedade e depressão, o que devemos combater com programas de bem-estar e proteção. Por este motivo, bem como pelas vulnerabilidades expostas pela pesquisa da Zurich-Oxford, o alcance da proteção da força de trabalho é agora muito mais amplo.

Como diz Wendy Liu, diretora global de soluções para benefícios aos colaboradores da Zurich: "O vírus amplia os pontos fracos dos nossos sistemas atuais. Portanto, o bem-estar não só se tornou mais importante, como também está em expansão. Ele vai além do escritório e entra na vida privada". Entre outras coisas, ele deve incluir a proteção dos familiares, que é algo que já proporcionamos aos colaboradores da Zurich".

Liu diz que a saúde mental é um dos pilares da estrutura de bem-estar da Zurich, juntamente com o bem-estar físico, o bem-estar social e o bem-estar financeiro. "Em mercados onde a saúde mental é discutida abertamente, como o Reino Unido, a saúde mental é responsável por uma grande parte das reivindicações por invalidez", diz Liu.
Ela acrescenta que a Zurich lançou programas na Irlanda e na Austrália para aumentar a conscientização em relação à saúde mental e oferecer apoio que vai além dos "interesses segurados". Liu destaca que a sensação de impotência é um efeito colateral prejudicial do Covid-19, agravando o efeito da perda de renda e emprego que muitos sofrerão.

O que isto significa para o seguro é evidente: a saúde mental é agora uma questão crucial para a proteção da força de trabalho. "Será necessária maior cobertura para questões de saúde mental", diz Liu. "Já estamos vendo muitas empresas colocarem a saúde e a segurança dos funcionários acima dos lucros. Essa é uma tendência que provavelmente vai continuar e reflete bem sobre o tipo de sociedades que podem se desenvolver pós-Covid-19".

Quando se trata de saúde física, a experiência é um fator revelador. Uma das principais descobertas na pesquisa da Zurich-Oxford sobre deficiências na proteção de renda é que a experiência pessoal de um evento de saúde negativo tornou os trabalhadores mais propensos a adquirir um seguro de proteção de renda. E como esta pesquisa mostrou que menos de 50% da força de trabalho está informada a respeito de seguros, constatou-se também há uma falta de conhecimento. Em especial, este é o caso de trabalhadores com contratos não tradicionais.

Quando a equipe de pesquisa da Zurich-Oxford entrevistou 11.000 pessoas em 11 países sobre proteção de renda, uma em cada cinco disse que poderia sobreviver menos de um mês sem renda, e três em cada cinco disseram que suas economias durariam menos de seis meses. O Covid-19 está trazendo dificuldades e perdas de empregos, e é um lembrete brutal de que precisamos pensar à frente, bem como uma oportunidade de aproveitar as lições da pesquisa.

Outra descoberta da pesquisa da Zurich-Oxford é a nossa crescente dependência da tecnologia, o que, naturalmente, está permitindo a enorme mudança para o trabalho em casa durante a pandemia. Os trabalhadores de hoje querem escolher onde, quando e como trabalham, o que é um reflexo da nossa força de trabalho cada vez mais ágil, mas também é preciso ter proteção suficiente.

Em uma recente pesquisa da Staples, 90% dos funcionários disseram que gostariam de ter mais flexibilidade no local de trabalho, e 67% disseram que considerariam a possibilidade de procurar um novo emprego se seu empregador atual fosse inflexível. Ainda falta saber se o trabalho em casa se tornará a norma, com o atual salto do escritório para casa fazendo com que as empresas pensem com mais cuidado em formas flexíveis de trabalho que beneficiem tanto funcionários, empregadores e clientes.

O trabalho à distância deveria ser uma escolha e não uma necessidade, caso contrário pode levar ao estresse e reduzir a produtividade. Além disso, com o aumento da flexibilidade e da mobilidade, há um risco maior de crimes cibernéticos se as proteções normais forem removidas.
Segundo Nadia Younes, diretora global de experiência, diversidade e bem-estar dos colaboradores da Zurich, "O que temos agora não é um exemplo de trabalho flexível normal, porque não foi preparado para o sucesso". Ele foi preparado para a sobrevivência. Contudo, a flexibilidade certamente permitiu a continuidade dos negócios durante a crise e será vital para a recuperação econômica".

Younes diz que, independentemente das mudanças aceleradas pela nossa luta contra o Covid-19, não devemos deixar que a flexibilidade se transforme em vulnerabilidade – e devemos reconsiderar o que queremos dizer com equilíbrio entre vida profissional e pessoal. "Ela deve ser mutuamente benéfica", diz Younes, "para que a flexibilidade em questões como horários ou localização ajude tanto os funcionários quanto o empregador". Todos devem saber o que é necessário nesta equação para permanecer engajados, produtivos e resilientes".

Também devemos assegurar que o conceito de bem-estar englobe a igualdade de gênero, a diversidade e a inclusão em todas as suas formas. Destacando este ponto, a pesquisa de Percepções da Proteção da Zurich-Oxford entrevistou 16.500 pessoas e encontrou acentuados desequilíbrios de gênero, tanto em termos de flexibilidade quanto de vulnerabilidade. Particularmente, apenas 34% das mulheres estavam em uma posição de supervisão de outros funcionários. As mulheres também estão menos informadas a respeito dos seguros e mais vulneráveis às mudanças no mundo do trabalho.

Também não podemos perder de vista os dados demográficos referentes à idade. Com as pessoas vivendo mais tempo, devemos proporcionar uma proteção 'integral' que ofereça proteção financeira e de saúde durante as dificuldades da nossa vida profissional e até a terceira idade e aposentadoria.
Todos querem um rápido retorno à "normalidade", uma palavra que estamos ouvindo repetidamente. Mas para aqueles que conseguem enxergar além desta crise, há também uma mensagem de esperança e otimismo: podemos "reconstruir melhor". A proteção e a inclusão ágeis da força de trabalho devem ser uma parte fundamental desse futuro.