Riscos esquecidos da mudança climática

Artigo23 de março de 2021

Se você pensava que gerenciar os riscos das mudanças climáticas significava apenas implementar medidas de prevenção a enchentes, pense novamente. Há uma infinidade de riscos de transição e de responsabilidade que podem destruir seus negócios como um tornado. No final, o impacto pode vir mais cedo do que você imagina.

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A mudança climática é um risco crítico aos negócios. Ponto final. Mas sua empresa está avaliando e mitigando todos os riscos climáticos?


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Os riscos mais óbvios e mais documentados associados às mudanças climáticas são os "riscos físicos", tais como aumento na frequência e na severidade dos eventos climáticos. Esses riscos podem se manifestar repentinamente na forma de enchentes ou furacões, ou gradualmente, como aumento do nível do mar ou aumento da temperatura.

Mas existe uma categoria ampla e relativamente nova de riscos climáticos, denominada "riscos de transição", que pode destruir seus negócios como um tornado. No final, o impacto em seus negócios pode vir mais cedo do que você imagina.


O que são riscos de transição?

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“Os riscos de transição estão ligados à transformação em direção a uma economia de baixo carbono, sendo, portanto, impulsionados em grande parte por mudanças na percepção da sociedade das indústrias emissoras de carbono, novas políticas públicas, novas tecnologias, mudanças nas preferências dos investidores e mudanças na visão do consumidor. Isso potencialmente levará a impactos econômicos e sociais em um período de tempo muito menor do que os riscos físicos das mudanças climáticas”,

explica John Scott, Diretor de Risco em Sustentabilidade do Zurich Insurance Group.

 

A mudança em direção a um mundo de baixo carbono pode fazer com que setores da economia enfrentem grandes oscilações nos valores de seus ativos, por exemplo, o valor de mercado das empresas usuárias de carvão térmico caiu nos últimos anos - ou aumento de custos, como rotulagem de produtos de consumo como baixo carbono ou com novos códigos de construção ecológica. Indústrias intensivas em carbono podem perder subsídios, e outras podem estar sujeitas a aumento nos preços de carbono ou outras formas de tributação ecológica, abertas ou veladas.

Os riscos de transição também podem derivar de mudanças regulatórias ou tecnológicas destinadas à redução de emissões. A indústria automotiva enfrenta o desafio de ambos os riscos, devido às metas oficiais dirigidas à eliminação de venda de novos veículos a gasolina e diesel - em alguns casos, até o ano de 2030. As montadoras sem uma estratégia robusta para veículos elétricos possivelmente ficarão para trás, embora possa haver outras tecnologias de motores de baixo carbono, como células de combustível de hidrogênio. Isso significa que não é apenas um problema setorial, mas também um desafio de estratégia competitiva.

Outros riscos de transição vêm de mudanças de demanda resultantes de uma troca das tendências do consumidor, à medida que se tornam mais sensíveis às questões ambientais ou que mudam seu comportamento devido a incentivos econômicos. Isso pode criar riscos para a reputação de empresas, e suas marcas podem ser percebidas como parte do problema, e não da solução. Ao mesmo tempo, novas oportunidades serão criadas, por meio do aumento da demanda por produtos e serviços de baixo carbono.
Os riscos físicos e transitórios das mudanças climáticas não são mutuamente exclusivos. Os incêndios florestais da Califórnia em 2017 e 2018 mostraram como as mudanças climáticas podem incorrer em custos físicos específicos de curto prazo - bem como custos de transição. Os incêndios florestais levaram a PG&E, uma empresa prestadora de serviços públicos sediada na Califórnia, a entrar com pedido de falência após ser responsabilizada por danos. Essa foi uma das primeiras falências vinculadas às mudanças climáticas, onde danos extensos foram ampliados por condições climáticas extremamente quentes e secas.

“As empresas devem considerar as mudanças climáticas e se concentrar no desenvolvimento de estratégias que criem resiliência, tanto para descarbonização dos serviços que prestam quanto para os riscos físicos das mudanças climáticas”, afirma Scott. “Somente então serão capazes de entrar em ação e tomar medidas graduais adequadas.”


O que são riscos de responsabilidade?

Há também outra categoria de riscos relacionados à mudança climática geralmente citada como "riscos de responsabilidade". Esses riscos estão relacionados a exposições de responsabilidade legal decorrentes, direta ou indiretamente, das atividades corporativas das empresas, podendo incluir, por exemplo, pessoas ou empresas que tenham sofrido eventos físicos, como inundações, fazendo reivindicações contra organizações que consideram responsáveis por causar ou contribuir para o evento climático.


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“O litígio climático está aumentando em todo o mundo, refletindo o avanço na conscientização, gerando disputas legais e mudando a percepção pública”,

afirma Cristiana Báez-Safa, Diretora de Desenvolvimento de Propostas da Zurich (Commercial Insurance).


“Essa é uma área em que vemos, em boa medida, "litígios de definição de agenda", onde os reclamantes buscam responsabilizar as empresas e seus diretores por participação na mudança climática. Além disso, o maior foco dos reguladores e investidores para garantir que as empresas prestem as informações necessárias e maior foco no cenário regulatório atual está aumentando os litígios relacionados à questão climática.”

A Autoridade Regulatória do Banco da Inglaterra forneceu um conjunto de exposições de responsabilidade que podem levar a litígios, a saber: "falha em mitigar", "falha em se adaptar" ou "falha em divulgar ou cumprir".

“Embora os litígios climáticos tenham sido predominantemente contra governantes no passado, os litígios contra empresas estão aumentando cada vez mais, com alegações muitas vezes baseadas em obrigações de direito societário com o objetivo de forçar ações ecológicas e ambientais”, conclui Báez-Safa. 

A necessidade de padrões de divulgação globais consistentes e definidos está sendo discutida em vários países, sendo que esses padrões atribuem uma responsabilidade maior para que as empresas divulguem e demonstrem que estão implementando medidas de sustentabilidade e estratégias de gestão de risco direcionadas à questão das mudanças climáticas.

Para mitigar esse risco, as empresas deverão atender às demandas por divulgações sobre riscos climáticos, de acordo com as diretrizes definidas pela Diretoria de Sustainability Accounting Standards e pela Força-Tarefa de Climate-related Financial Disclosures.


Gabrielle Dur


“As empresas precisam analisar como podem incorporar as questões de risco ambiental em processos de risco business-as-usual”, afirma Gabrielle Durisch, Diretora de Sustentabilidade para Commercial Insurance. “Isso requer o uso de diferentes ferramentas quantitativas e qualitativas, dados e métricas para acompanhar e avaliar a exposição a riscos físicos, de transição e de responsabilidade. Mas esse processo não apenas expõe os riscos como também destaca as oportunidades.”

Os riscos físicos das mudanças climáticas continuam sendo o maior risco ao planeta. Para evitar essa emergência planetária, governos e indústrias deverão tomar decisões inovadoras em direção a um futuro de zero carbono, o objetivo do Acordo de Paris.


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Ao mesmo tempo, essas ações também impactarão e aumentarão os riscos de transição, bem como os potenciais riscos de responsabilidade. Mas esses riscos não podem ser negligenciados se quisermos criar um futuro melhor para as pessoas e para o planeta. Ao invés disso, devemos aprender a administrar, adaptar e mitigar as exposições potenciais.