Será que sua bebida favorita sobreviverá às mudanças climáticas?

Riscos e resiliênciaArtigo30 de setembro de 2020

A Zurich está trabalhando junto à VICE para examinar algumas das maneiras pelas quais as mudanças climáticas podem impactar nossas vidas no futuro.

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Quando pensamos sobre as mudanças climáticas, é fácil associá-las a todos os danos que estamos causando ao planeta - aquecimento global, derretimento das calotas polares, redução das geleiras, aumento do nível do mar, aumento das ondas de calor e eventos climáticos extremos mais frequentes. Mas a mudança climática não diz respeito apenas ao planeta, mas de todos nós. A mudança climática trará danos mais perenes à humanidade do que ao próprio planeta. A Terra tem 4,5 bilhões de anos e já foi uma esfera de lava e gás. O planeta provavelmente ficará bem melhor que tivermos partido, já que somos muito mais frágeis.

Mas antes que nossa negligência com o meio ambiente varra a humanidade do planeta, a mudança climática irá causar uma grande perturbação em coisas que consideramos garantidas. É provável que uma vítima relativamente antecipada seja o que bebemos. Tudo, desde as latas que levamos para o parque até o café que tomamos na manhã seguinte para nos despertar antes do trabalho, será impactado pelas mudanças climáticas. Qual seu vinho favorito? Não espere que tenha o mesmo sabor pelo resto de sua vida, pois alguns vinhos podem até deixar de existir nas próximas décadas.

A mudança climática já está afetando os vinhedos e a produção de lúpulo. O aumento da temperatura e a crescente escassez de água podem tornar mais difícil a produção de suas bebidas favoritas. A cerveja é feita de água, cevada maltada e lúpulo, e todos esses ingredientes serão afetados pelas mudanças climáticas. Johanna Köb, chefe de investimento responsável do Zurich Insurance Group (Zurich), afirmou à VICE: “Com temperaturas mais altas, mais aridez e mais secas, a produção de lúpulo e da cevada pode diminuir. A cerveja também leva água, a qual também terá problemas de escassez com as temperaturas mais elevadas. Assim, será necessário priorizar o que produzimos.”

Mais de 200 cervejarias americanas uniram-se recentemente para enviar uma mensagem aos políticos na qual eles: “declaram que as mudanças climática,s represen,t,am um risco substancial e crescente para seus negócios.”

E não é apenas a cerveja que está sendo ameaçada pelas mudanças climáticas. Coquetéis e bebidas destiladas utilizadas em sua preparação também estão em risco. A tequila, um ingrediente essencial da margarita e do Long Island, pode desaparecer devido à queda na biodiversidade. A planta agave, utilizada na fabricação da tequila, é polinizada pelo morcego de nariz comprido, anteriormente ameaçado de extinção, o qual também espalha as sementes da planta. Felizmente, os morcegos foram retirados da lista de espécies ameaçadas dos Estados Unidos em 2018, o que dá alguma esperança aos apreciadores de margarita.

O sabor do vinho depende de diferentes fatores que afetam as uvas, tais como solo, temperatura e altitude, sendo que as mudanças climáticas estão alterando muito esses fatores. O vinho pode não desaparecer completamente, pois uvas podem ser cultivadas em temperaturas mais altas, porém, as chances de seu vinho francês favorito ter hoje o mesmo sabor que teve há uma década estão diminuindo.

Os produtores de vinho europeus já estão sofrendo os impactos das mudanças climáticas, e tiveram que adaptar a forma como fabricam seus vinhos. Köb continua: “A época da colheita para vinhos brancos e tintos avançou várias vezes nos últimos anos. Verões muito secos reduzem o volume da colheita das uvas, e quanto mais sol e mais calor, mais açucaradas elas se tornam. Mais açúcar nas uvas significa um nível de álcool mais alto e menor ,a,cidez, o que, torna os vinhos mais pesados e com alteração no sabor.”

Mesmo se conseguirmos manter a produção de bebidas alcoólicas, na medida em que a mudança climática afeta esse setor, a cura para essa ressaca pode ser ainda mais difícil de encontrar. O aumento das temperaturas pode reduzir a área cultivável do café em até 50% até 2050. Alguns cafeicultores já estão migrando para outras safras menos vulneráveis ao aumento das temperaturas, o que levou alguns especialistas a preverem uma futura escassez de café.

A escassez de água é uma das maiores ameaças ao que bebemos atualmente, segundo Köb. Mas isso não se deve apenas ao aumento das temperaturas. O aumento na frequência de eventos climáticos extremos, como enchentes ou secas, também afetou o abastecimento de água. Podemos imaginar que consumir álcool é importante, mas quando a água ficar escassa, será que iremos realmente usar as últimas gotas para fabricar bebidas?

Eventos climáticos extremos, como incêndios florestais e furacões, também representam uma ameaça à distribuição de nossas bebidas favoritas. Com tudo isso acontecendo com mais frequência, as cadeias de fornecimento utilizadas na movimentação de bebidas também podem se tornar mais vulneráveis e serem interrompidas.

Se não tomarmos medidas agora para reduzir as emissões de carbono, limitar o aquecimento global e combater as causas centrais das mudanças climáticas, não podemos esperar consumir as mesmas bebidas ou que estas tenham o mesmo sabor no futuro. Também não podemos esperar consumir a mesma quantidade que consumimos hoje, com a previsão de escassez de água que irá afetar severamente o volume de bebidas que fabricamos.

Combater a mudança climática não é apenas salvar o planeta. A Terra é capaz d,e enfrentar ameaças muito mais sérias do que nós, destruindo ecossistemas, antes de finalmente colidir com o sol. O que realmente importa é parar as ameaças do modo como vivemos e, em parte, salvar nosso tempo.