Será que sua casa dos sonhos está prestes a desaparecer debaixo d'água?

Riscos e resiliênciaArtigo30 de setembro de 2020

A Zurich está trabalhando junto à VICE para examinar algumas das maneiras pelas quais as mudanças climáticas podem impactar nossas vidas no futuro.

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Você sonha em se mudar para o litoral e morar com vista para o mar? Existe alguma cidade costeira que você gosta de visitar ano após ano para comer fish and chips e beber umas cervejas à beira-mar, e para a qual você gostaria de se mudar no futuro? Acontece que, com o aumento do nível do mar, alguns dos lugares onde as pessoas vivem atualmente podem ficar debaixo d'água. Isso irá acontecer em alguns lugares mais rápido do que em outros, porém, o nível do mar pode subir mais de um metro até 2100, de acordo com uma pesquisa envolvendo mais de 100 especialistas.

Essa pesquisa, denominada Estimativa do aumento médio do nível do mar global e suas incertezas em 2100 e 2300 a partir de pesquisa de especialistas (2020), revela que centenas de milhões de pessoas podem encontrar suas casas debaixo d'água se o pior cenário para as mudanças climáticas realmente acontecer. Mas não são apenas o aquecimento global e o derretimento das calotas polares que estão subindo os níveis do mar; isso é apenas parte de um problema ainda mais amplo. Não só os níveis do mar estão subindo como também a terra está afundando no mar, de acordo com Amar Rahman, líder de práticas de engenharia de risco global para resiliência a desastres naturais no Zurich Insurance Group (Zurich).

A terra está afundando em parte devido àquilo que estamos construindo sobre ela. Rahman disse à VICE: “As áreas costeiras, especialmente aquelas com alto nível de desenvolvimento, estão na verdade afundando, principalmente devido à urbanização. Ao construir toda a infraestrutura de uma cidade, são retiradas águas subterrâneas e interrompidos processos naturais que acontecem há milênios. Tudo isso contribui para o problema.”

Essas tendências estão gerando grande impacto nas cidades costeiras de todo o mundo. Bangkok está particularmente em risco, assim como as principais cidades, de Lagos, na Nigéria, até Dhaka, em Bangladesh. A capital da Indonésia, Jacarta, uma megacidade com 30 milhões de habitantes, está afundando no mar a tal velocidade que as autoridades governamentais irão realocar seus escritórios. A erosão costeira em Nova Gales do Sul está ameaçando casas de luxo à beira-mar, e espera-se que isso piore com o aumento do nível do mar. As medidas comuns adotadas para proteger casas nessas condições, tal como a construção de quebra-mares, podem ter um alcance limitado, segundo Rahman, da Zurich.

Rahman continua: “As comunidades estão falando sobre a construção de quebra-mares para proteger as praias e impedir que essas casas desapareçam no mar. Mas essa medida é uma solução temporária, porque o problema é dinâmico. Na medida em que o nível do mar está subindo, você tem diferentes níveis de erosão em diferentes partes do mundo ou em diferentes partes da costa. Ao construir um quebra-mar em algum lugar, você está transferindo o problema para outra parte da costa.

Soluções para a erosão costeira que não apenas empurrem o problema para outras comunidades são dispendiosas", conclui Rahman. Essas medidas podem incluir restrições à atividade humana, limitação à urbanização em algumas áreas, considerar mais seriamente a conservação da água e melhorar as condições do solo. Casas localizadas em áreas costeiras também estão em risco devido ao aumento do nível do mar. Partes da Europa e do Reino Unido também podem acabar submersas. Mas isso não se deve apenas ao aumento do nível do mar; as mudanças climáticas também estão agravando o risco de eventos climáticos extremos e as inundações sazonais.

Com o aumento do nível do mar como cenário, a tendência é que tempestades ultrapassem as defesas costeiras contra inundações. “É uma grande preocupação, a longo prazo, para moradores e empresas localizadas nessas áreas”, afirma Ralph De Mesquita, principal analista de risco da Zurich no Reino Unido.

“Para as construções atuais, a proteção contra inundações consiste em manter a água afastada da propriedade, o que chamamos de resistência a inundações, ou minimizar os danos e acelerar o tempo de recuperação caso a inundação ocorra, o que chamamos de resiliência a inundações”, explica De Mesquita.

De Mesquita afirmou à VICE que o clima sempre variou ao longo do tempo, porém, é o ritmo atual dessas mudanças que está causando preocupação. Mas os efeitos de longo prazo aumentam o problema. O "recuo glacial", por exemplo, está fazendo com que o sul da Inglaterra afunde lentamente, enquanto a Escócia está sendo empurrada para cima, como se toda a Grã-Bretanha fosse uma gangorra.

Podemos não estar prestes a ver todas as áreas costeiras da Europa afundando em nossas vidas, mas certamente veremos mais e mais casas, empresas e comunidades submersas por breves períodos de tempo, conforme aumenta a frequência das inundações. Até mesmo localidades no interior poderão correr o risco de inundações, agravadas pelas mudanças climáticas. Este não poderia ser o melhor momento para reduzir nossas pegadas de carbono e interromper as mudanças climáticas.