Covid-19 e as mudanças climáticas: Podemos manter a agenda ecológica viva?

Riscos e resiliênciaArtigo9 de setembro de 2020

A retomada econômica da pandemia não deve ocorrer às custas de nossos objetivos ambientais. Este é o momento de fortalecer nossa determinação e construirmos um futuro melhor.

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No início da pandemia de Covid-19, o secretário-geral das Nações Unidas pediu solidariedade diante de um dos maiores desafios na história de 75 anos da ONU. Enquanto tratava a crise sanitária imediata, António Guterres também teve o cuidado de salientar a ameaça em longo prazo ao meio ambiente - e a necessidade de permanecer no caminho certo para combater as mudanças climáticas.

“Temos um plano de ação - a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável e o Acordo de Paris sobre Mudanças Climáticas,”

afirmou Guterres.

“Devemos cumprir nossas promessas às pessoas e ao planeta.”

Se há um lado bom em algo tão catastrófico quanto o Covid-19, é a limpeza ambiental e a desaceleração nas emissões de gases de efeito estufa que vimos no início do ano. À medida que a produção industrial caía, os carros desapareciam das estradas e os aviões ficavam em terra, as pessoas em todo o mundo notavam um efeito positivo em seus arredores. O ar estava mais limpo, havia menos poluição e a natureza começou a recuperar o controle e restaurar o equilíbrio.

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Os dados estatísticos corroboram isso. Segundo a Agência Internacional de Energia, as emissões globais de gases de efeito estufa devem cair 8% em 2020 em comparação com 2019; e, no início de abril, quando o mundo estava em lockdown, as emissões globais diárias de carbono caíram 17% em comparação com o ano passado. Contudo, no início de junho, o Global Carbon Project informou que estávamos apenas cerca de 5% abaixo do valor de junho do ano anterior, indicando um retorno ao mesmo trajeto desanimador. 

Pior do que isso, o perigo real é que o Covid-19 acelere as mudanças climáticas, combinando todos os fatores de risco que ameaçam a sustentabilidade no longo prazo e a meta da ONU de limitar o aquecimento global a 1,5 °C.  

Mesmo antes de a pandemia acontecer, havia preocupações sobre como atingir a meta. A Zurich destacou isso em seu relatório técnico Lidando com os impactos das mudanças climáticas e sua “tabela de desempenho de mudanças climáticas”.   Em uma atualização da edição de 2018, a Zurich observou que “embora a legislação, o sentimento e as tendências sociais tenham mudado em favor do combate às mudanças climáticas, as ações ainda estão aquém do que é necessário para fazer a transição sustentável da economia global”.

A Covid-19 pode prejudicar ações concretas e boas intenções. Já vimos a determinação enfraquecer na busca de reconstruir o futuro independentemente, em vez de construir um futuro melhor, com alguns governos relaxando ou suspendendo os regulamentos de proteção ambiental para estimular a atividade industrial. À medida que governos, empresas e indivíduos se concentram em recuperar economias e modos de vida destruídos, podemos voltar às práticas “marrons” insustentáveis como a única opção prática e as ecológicas sendo apenas “ok” agora.

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Essa é uma premissa falsa. Como John Scott, Diretor de Risco de Sustentabilidade da Zurich, aponta: “Tudo mudou, mas nada mudou. Nossas prioridades continuam as mesmas e, de fato, se intensificaram porque a Covid-19 destaca as dependências de risco. Não devemos separar nossas prioridades econômicas e de saúde imediatas das ameaças mais lentas, porém maiores, que são as mudanças climáticas. Se ignorarmos as mudanças climáticas como o risco existencial global mais importante, não haverá sentido em reconstruir economias e vidas se sacrificarmos o futuro do planeta”. 

No Panorama dos Riscos da Covid-19 (ao qual a Zurich contribuiu), a mensagem é clara: a retomada sem sustentabilidade é um grande erro. “O risco ambiental mais grave para o mundo é a falta de investimento em ações climáticas”, diz o relatório, pois isso pode perpetuar práticas de uso intensivo de recursos e aumentar o consumo global de energia e as emissões de gases de efeito estufa.

Esta é uma visão que Charlotta Groth, Macroeconomista Global da Zurich, reforça, afirmando que a crise da Covid-19 pode aumentar as mudanças climáticas. “A menos que incluamos um estímulo ecológico em todos os nossos planos de retomada, sofreremos as consequências em longo prazo. Não é o momento de desacelerar o ímpeto para a precificação do carbono ou de facilitar a remoção dos subsídios aos combustíveis fósseis. Também não devemos nos desviar do desenvolvimento de formas de energia mais limpas e eficientes ou perder o entusiasmo por investimentos que promovam a sustentabilidade. Agora é a hora de redobrar nossos esforços ecológicos”.

A Zurich está envolvida em diversas iniciativas e continua concentrada na ameaça ambiental. Como a primeira seguradora a se comprometer com a meta de 1,5 °C da ONU, a Zurich está seguindo vigorosamente sua própria estratégia de redução de carbono. Ela é também membro fundador da Net-Zero Asset Owners Alliance, um grupo de liderança climática cujos membros se comprometeram a reduzir as emissões de carbono de suas carteiras de investimento para zero até 2050.

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Outra iniciativa da Zurich são os Serviços de Resiliência às Mudanças Climáticas, uma abordagem de gestão de risco que ajudará os clientes a desenvolver soluções para se adaptar aos eventos relacionados às mudanças climáticas. Da mesma forma, o Perfil de Risco Total (TRP) da Zurich e outras ferramentas estão colocando o risco das mudanças climáticas em um contexto mais amplo.

Essas são apenas algumas das maneiras pelas quais a Zurich está ajudando clientes e comunidades a lidar com desastres naturais e condições climáticas extremas. É uma função que envolve ser um educador e um influenciador, bem como uma seguradora tradicional e um gerente de risco. Além disso, há a convicção de que o seguro por si só não é a panaceia das mudanças climáticas.

“Resiliência exige um ponto de vista abrangente e responsabilidade coletiva,”

afirma Scott.

“Deve incluir política, transferência de risco financeiro e muitos outros fatores de risco que talvez sejam menos óbvios. Por exemplo, quando se trata de mitigar os danos do furacão, não é apenas o dique físico que protege as pessoas; o planejamento, comportamentos, ações e atitudes de várias partes interessadas também nos ajudam a compreender e gerenciar o risco.

 

A Covid-19 comprova os efeitos globais e sistemáticos do risco e a importância de estar preparado e ser resiliente. Resta saber qual será o impacto da pandemia na próxima tabela de desempenho de mudanças climáticas da Zurich, mas o aviso é claro: sem uma retomada ecológica e um compromisso coletivo com a mudança para melhor, o Acordo de Paris não terá sentido.