A temporada de eventos climáticos extremos deste ano irá expor as empresas a uma tempestade de riscos globais

Riscos e resiliênciaArtigo3 de setembro de 2020

O impacto da COVID-19 na temporada de eventos climáticos extremos deste ano é testemunho de que os riscos globais estão interligados em sua natureza.

Compartilhe isto

Desde furacões até ondas de calor, marcaram o início de uma estação com eventos climáticos extremos em todo o mundo. No entanto, com as consequências globais da pandemia de COVID-19, não haverá nada de ‘normal’ na temporada de eventos climáticos extremos deste ano.

Acompanhamento dos riscos naturais

Ao contrário da pandemia de COVID-19, a chegada deste risco global periódico não causará surpresa. Contudo, a Organização Meteorológica Mundial alerta que a gravidade dos eventos climáticos extremos tem aumentado nos últimos anos, sendo os últimos cinco anos os mais quentes já registrados.

“Se analisar os ciclones tropicais, por exemplo, os dados e os modelos climáticos observados indicam que sua frequência provavelmente não mudará significativamente. Mas o que temos visto recentemente e esperamos ver mais no futuro, é um número consideravelmente maior de ciclones tropicais das categorias quatro e cinco, que são os mais intensos", afirma John Scott, Diretor de Riscos de Sustentabilidade da Zurich Insurance Group.

“Os riscos globais são caracterizados por suas interdependências, e é exatamente isso que estamos percebendo no momento".
As empresas estão enfrentando uma temporada de eventos climáticos extremos enquanto o mundo continua lidando com a maior crise sanitária de uma geração além da recessão econômica global. O surto de COVID-19 evidenciou a natureza interligada dos riscos globais que ocorrem independentemente das condições climáticas. “Os riscos globais são caracterizados por suas interdependências, e é exatamente isso que estamos percebendo no momento." diz Scott.

FT_GRR_Extreme_Weather_Events_June_Burst_2020_Article_Two_Fast_Fact_01_V3

Com a infraestrutura crítica já comprometida pela COVID-19, a estação de eventos climáticos extremos de 2020 será diferente de todas as outras: “Os serviços médicos e os socorristas estão focados no momento na crise da COVID-19", explica o Dr. Amar Rahman, Líder de Prática Global em Engenharia de Riscos da Zurich Insurance Group. “Até mesmo um evento climático extremo com poucas fatalidades poderia colocar uma pressão desproporcional sobre as infraestruturas e os sistemas de apoio existentes devido à situação atual”.

O risco de uma pandemia ficou de fora dos dez principais riscos globais, tanto em probabilidade quanto em impacto, na pesquisa de percepção de riscos do Relatório de Riscos Globais conduzida com líderes empresariais, pouco antes do surto de COVID-19. “Havia um entendimento incompleto da interdependência dos riscos, como a confiabilidade das cadeias alimentares e os riscos cibernéticos em meio a uma pandemia. Agora, estamos enfrentando todos eles juntos” diz Rahman.

“Uma lição importante que a crise atual nos ensinou é que as empresas devem estar muito conscientes dos eventos de baixa probabilidade, mas com alto impacto potencial. Não os ignore apenas por sua baixa probabilidade. Prepare um cenário de gestão de risco para esses eventos de baixa probabilidade e alto impacto com o mesmo rigor adotado para eventos de alta frequência e baixo impacto”.

O Relatório de Riscos Globais do Fórum Econômico Mundial (FEM), preparado em colaboração com a Zurich Insurance Group e publicado em janeiro de 2020, revela que “confrontos econômicos entre grandes potências” foi o risco mais preocupante para a comunidade multissetorial do FEM para o próximo ano. Há o argumento de que a crise da COVID-19 reordenou essas preocupações, conforme descrito no relatório de Panorama dos Riscos da COVID-19: Mapa Preliminar e suas Implicações, publicado em 19 de maio de 2020. Os riscos econômicos ainda são as consequências mais prováveis e preocupantes da COVID-19, especialmente o risco de uma recessão prolongada da economia global, mas também existem implicações econômicas, ambientais e sociais de longo alcance. Isso inclui o nível elevado de desemprego estrutural, aumento de desigualdades sociais, sanitárias e de renda, e a falta de coesão social; problemas que ameaçam a resistência da sociedade a outros riscos, como a preparação para condições climáticas extremas.

FT_GRR_Extreme_Weather_Events_June_Burst_2020_Article_Two_Fast_Fact_02_V3

“Quando analisamos os riscos globais, muitos deles são existenciais”. diz Scott. “Todos eles exigem mitigação e, no caso da COVID-19, embora houvesse uma compreensão dos possíveis impactos de uma pandemia virulenta, infelizmente não foram feitos esforços suficientes para se preparar para ela; um ponto destacado pelo Dr. Richard Hatchett, CEO da Coalizão para Inovações em Preparação para Epidemias (CEPI), no artigo ‘A necessidade de uma tecnologia de vacinas mais rápida e ágil para combater as epidemias do futuro’, publicado em outubro de 2019. Além disso, em um mundo com líderes nacionalistas e populistas com a mentalidade do ‘meu país primeiro’, houve muito pouco apoio às organizações multilaterais que podem ajudar a mitigar esses riscos globais” aponta Scott.

“O que esta crise tem nos mostrado é que temos de ser mais ágeis e aprender a nos adaptar à situação, independentemente do que a desencadeou”.

Essa falta de preparação é algo que as empresas devem evitar a todo o custo ao lidar com condições climáticas extremas. Uma estratégia robusta de gestão de riscos exige que as empresas desenvolvam diligentemente um conhecimento detalhado das operações da organização, identificando suas partes e locais mais críticos. Com cada país e região lidando com seus próprios desafios durante a pandemia de COVID-19, o próximo passo é desenvolver um conjunto mais granular de planos em cada local.

“Uma vez identificadas as partes críticas das suas operações, é preciso testá-las de acordo com qualquer evento desencadeador", diz Rahman. “Utilize a experiência interna e externa para desenvolver uma estratégia voltada para cada cenário. O que esta crise tem nos mostrado é que temos de ser mais ágeis e aprender a nos adaptar à situação, independentemente do que a desencadeou.

Nessas fases preparatórias é essencial desenvolver um plano de resposta com base em todos os cenários possíveis que possam ter um impacto no local. O pessoal-chave que compõe a Equipe de Resposta a Emergências deve receber treinamento periódico e estar ciente de suas funções e responsabilidades com bastante antecedência a um evento potencial. Quando um evento é iminente, mesmo que a probabilidade de impacto seja baixa, verifique as questões relacionadas à manutenção e faça uma inspeção visual dos sistemas de proteção, bem como da proteção contra inundações e ancoragem de equipamentos, o quanto antes. Com menos pessoal no local, os procedimentos de parada segura das operações podem levar mais tempo e, portanto, devem ser também ser iniciados mais cedo durante a evolução de um risco natural. Com as cadeias de abastecimento já gravemente comprometidas pela pandemia, esteja ciente de que pode ser mais difícil obter os recursos necessários para a recuperação.

FT_GRR_Extreme_Weather_Events_June_Burst_2020_Article_Two_Fast_Fact_04_V3

A pandemia de COVID-19 evidenciou a importância de uma comunicação clara e consistente numa crise. Durante um evento climático extremo, embora a comunicação com as partes potencialmente afetadas pela perda seja importante, também é importante reduzir qualquer comunicação desnecessária, como a necessidade de comunicar atualizações ao Conselho. Isto se torna uma distração para a direção do local, que precisa se concentrar e responder a mudanças potencialmente rápidas da situação.

Assim como a COVID-19 trará lições, as empresas devem aprender com cada estação com condições climáticas extremas e incorporar esse feedback à sua estratégia de gestão de risco.

“Antes da crise, classificávamos alguns eventos como de baixo risco ou de baixa probabilidade. Agora todos nós provavelmente deveríamos rever a nossa avaliação do impacto potencial destes eventos de baixa magnitude sobre nossas organizações, com base nas lições aprendidas com a pandemia atual”, diz Rahman.
De qualquer modo, o mundo sempre estará diante de um cenário de riscos globais interdependentes; se preparar para eles é a chave para a resiliência. “Os seres humanos são resilientes perante o desastre”, conclui Scott. “Eu acho que as pessoas terão capacidade para responder a condições meteorológicas extremas. O desafio será pensar de forma mais ampla para além do agora, e planejar o futuro”.

Principais Tópicos:

  • O impacto da COVID-19 na temporada de eventos climáticos extremos deste ano reflete a natureza interdependente dos riscos globais
  • As empresas devem se preparar para eventos de baixa probabilidade e alto impacto com o mesmo rigor adotado para eventos de alta frequência e baixo impacto”.
  • As empresas devem aprender com cada estação com condições climáticas extremas para atualizar a sua estratégia de gestão de risco