A mudança climática está reivindicando foco na gestão de riscos

Riscos e resiliênciaArtigo26 de abril de 2021

Tem sido difícil para gestores de risco se concentrarem em questões não relacionadas ao COVID-19. Mas, conforme as preocupações da pandemia mudam, a atenção agora pode se concentrar em outros riscos.

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Durante o ano passado, foi difícil para gestores de risco se concentrarem em questões não relacionadas a pandemia de COVID-19. Preocupações relacionadas a lockdowns, proteger trabalhadores remotos, lidar com reclamações, trabalhar com Engenharia de Riscos em um momento em que as viagens são reduzidas e outras preocupações os mantiveram focados em questões relacionadas à pandemia.

A mudança climática, entretanto, não tirou folga. E nem a necessidade de implementação de medidas de resiliência climática e sustentabilidade. A pandemia continuará sendo uma preocupação em grande parte do mundo no futuro próximo. Porém, conforme as sociedades ao redor do mundo reabrem suas sociedades com cautela, gestores de risco agora podem ter uma oportunidade de prestar mais atenção às preocupações que não a COVID-19.

Empresas não ignoraram seus trabalhos sobre sustentabilidade durante a pandemia, mas a atenção que ela demandou provavelmente deixou menos tempo disponível para gestores de risco trabalharem em estreita colaboração com seus times de sustentabilidade, diz Gabrielle Durisch, Chefe de Sustentabilidade para Seguros Comerciais do Zurich Insurance Group. “Eu acredito que uma empresa poderia ser dividida”, ela diz, e enquanto um gestor de risco se concentra em adversidades relacionadas à pandemia, “as equipes de estratégia ou de sustentabilidade podem seguir adiante. A questão importante seria um gestor certificar-se que está engajado e ciente de quaisquer mudanças planejadas e se estas foram devidamente avaliados em relação a quaisquer riscos que possam criar.”

Muitas empresas começaram a discutir modos de “reconstruir melhor uma recuperação ecológica” no início da pandemia, aponta Durisch. “Mas é realista? Se uma empresa, especialmente um pequeno negócio, precisa decidir se recuperar rapidamente ou de forma mais ecológica, que escolha podemos realisticamente esperar que ela faça?”

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Há uma urgência para que gestores de risco mantenham o foco nas mudanças climáticas e na sustentabilidade, observa Durisch, há um consenso de que o objetivo do Tratado de Paris, em limitar o aquecimento global para a menos de 2º C – preferivelmente, abaixo de 1,5º C – acima dos níveis pré-industriais até o final do século, possa não ser possível. É amplamente aceito, ela observa que “como uma comunidade global, nós não agimos com rapidez suficiente e não se espera que as promessas atuais sejam suficientes.”

“Nós estamos vivenciando desastres naturais mais longos, intensos e frequentes, como inundações, incêndios, secas e outros que podem ser atribuídos à mudança climática, mesmo que vários fatores podem estar envolvidos”, diz Amar Rahman, Líder Global dos Serviços de Resiliência às Mudanças Climáticas. “Em qualquer caso, seja de uma perspectiva de gestão de riscos ou como uma sociedade, nós deveremos tratar as mudanças climáticas como ocorrendo hoje, não como em um futuro distante, planejando de acordo e tomando medidas concretas para implementar medidas de mitigação e adaptação.”

Afiando o foco

Seja a ênfase nos riscos climáticos e na sustentabilidade tenha diminuído durante a pandemia ou que ela esteja apenas começando, organizações precisam compreender como elas podem ser afetadas pelos riscos climáticos, de acordo comum relatório, “Gerenciando os Impactos da Mudança Climática: Respostas de Gestão de Risco – Segunda Edição”, produzido pela Zurich.

O primeiro passo é onde a gestão de risco sempre começa, identificar os amplos negócios e os riscos estratégicos, de acordo com o relatório. Para fazer isso, a Zurich recomenda uma abordagem baseada em cenários, como a desenvolvida pela Força-Tarefa sobre Divulgações Financeiras Relacionadas ao Clima, que é estruturada em torno de governança, estratégia, gestão de risco e métricas e metas.

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“Desenvolver cenários que são plausíveis, relevantes, distintivos, consistentes e desafiadores, e que abrangem tanto transição quanto risco físico é um primeiro passo importante,” afirma o relatório, “isso precisa identificar os principais desafios enfrentados por uma indústria, as empresas dentro dela, assim como produtos e serviços individuais e seus planos de negócios associados.”
“A COVID demonstrou a necessidade de uma abordagem de gestão de risco baseada em cenários com múltiplos gatilhos,” diz Rahman. É uma abordagem comumente negligenciada, ele observa, já que uma abordagem de único gatilho é mais utilizada. “A atual situação com a pandemia é um exemplo disso. Poucas empresas estão preparadas para lidar com um evento grande, como um furacão ou uma inundação, sob as condições impostas pela pandemia.”

Uma vez que os cenários foram desenvolvidos, o relatório aconselha, é preciso que haja uma determinação das “principais categorias de risco a modelar e como implementar considerações sobre riscos climáticos em procedimentos de risco usuais dos negócios.”

Integrando seguro e resiliência

O relatório incentiva empresas a desenvolver uma estratégia de mitigação que inclui seguro e resiliência, seja através de adaptações de risco físico ou talvez mudando modelos de negócios, e uma abordagem de risco de adaptação que inclua uma estratégia para a redução da emissão de gases de efeito estufa. Uma abordagem integrada envolve não somente um seguro, que suporta a restauração de um local após um evento, mas também medidas de prevenção que possam reduzir o impacto e a severidade de um evento.

Rahman enfatiza que a experiência adquirida em qualquer evento, seja do impacto nas operações de uma empresa ou no setor em geral, deverá ser utilizada para melhorar a resiliência física e fortalecer medidas tais como continuidade de negócios e planos de resposta a emergências, planos de manutenção e outras formas de “proteção organizacional.”

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Estimativas de perda baseadas em cenários devem ser desenvolvidas com base em informações detalhadas sobre vulnerabilidades do local e potenciais eventos que possam impactá-lo. “Mapas locais de perigo devem ser utilizados e suposições aplicadas em relação aos efeitos das mudanças climáticas no processo de cenário. Tal análise é um componente essencial da estratégia de resiliência”, aconselha o relatório.

A análise deve ser aprimorada com dados de mudança climática com base nos conhecimentos científicos mais recentes, observa Rahman, para desenvolver uma visão de médio a longo prazo da evolução dos desastres naturais. Não basta somente confiar em dados históricos,” ele diz.

O relatório aponta que a análise incluiria uma avaliação no local da confiabilidade e eficácia da resposta a emergências e planos de continuidade de negócios, quaisquer medidas de proteção específicas de perigo, qualidade de estruturas, infraestrutura e serviços públicos.

Com essa informação em mãos, uma estratégia de resiliência de médio a longo prazo pode ser desenvolvida,” de acordo com o relatório, e, dentro dele, um orçamento pode ser definido para projetos de despesas de capital, bom como realocação de fundos existentes para medidas de resiliência.

Soando o alarme

Empresas que estão atrasadas em gestão de riscos climáticos precisam acelerar o ritmo, diz Durisch. “Gestores de risco em empresas que não possuem metas de redução de emissão de carbono devem levantar preocupações sobre o potencial dano de não adotar metas em linha com as estabelecidas pelo Acordo de Paris.”

E, ela adiciona, “gestores de risco devem considerar serviços de resiliência a mudanças climáticas, que podem ajudá-los a avaliar sua exposição a riscos físicos em um ou mais locais. O Relatório Global de Riscos 2021, que pelo terceiro ano consecutivo lista as condições meteorológicas extremas e a não tomada de medidas sobre as questões climáticas como os principais riscos globais, também fornece informações que atuam como um catalisador para a ação.”