Mitigação e adaptação: como nos ajudam a combater as mudanças climáticas?

Riscos e resiliênciaArtigo11 de maio de 2021

Existem duas maneiras distintas de responder às mudanças climáticas: mitigação e adaptação. Mas como elas diferem e ambas merecem o mesmo foco?

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Por Michael Szönyi, Líder do Programa de Resiliência a Inundações, Sustentabilidade de Grupo, Zurich Insurance Group


Precisamos agir com urgência em relação à mudança climática. Decisiva e extensivamente. Existem essencialmente duas categorias de ações que podemos tomar, mas, frustrantemente, elas tendem a causar confusão, em vez de esclarecimento sobre o que precisa ser feito. Então, qual a diferença entre mitigação das mudanças climáticas e adaptação às mudanças climáticas e como elas podem ajudar o planeta?


Mitigação das mudanças climáticas

A Terra consegue absorver ou remover da atmosfera aproximadamente 5 bilhões de toneladas de dióxido de carbono (CO2) por ano. Enquanto emitirmos mais do que isso, a concentração de CO2 continuará crescendo e, por sua vez, o planeta continuará se aquecendo.

O objetivo da mitigação das mudanças climáticas é reduzir as emissões líquidas de CO2 e outros gases de efeito estufa. O Acordo de Paris pretende limitar o aquecimento global a menos de 2oC e, preferencialmente, a 1,5oC comparando a níveis pré-industriais. Para alcançar este objetivo, precisamos reduzir as emissões humanas de gases de efeito estufa o mais rápido possível e atingir um mundo neutro para o clima até a metade do século – em outras palavras, um mundo onde não emitimos mais gases de efeito estufa do que a Terra consegue suportar sem mais aquecimento.

A mitigação das mudanças climáticas possui duas áreas de foco: redução de emissões e aumento de sumidouros de carbono. Conseguimos reduzir as emissões, por exemplo, substituindo a geração de energia a carvão por fontes de energia renováveis como solar e eólica. Também podemos mudar nosso comportamento pessoal reduzindo nosso consumo ou diminuindo nossos voos. No final, o objetivo é fazer a transição para uma economia e um estilo de vida com baixo teor de emissão de carbono e, eventualmente, com emissão zero de carbono.


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Para aumentar sumidouros de carbono, existem métodos naturais e tecnológicos para ajudar a Terra a absorver mais CO2. Isso pode ser feito através da redução de práticas que causam o desmatamento ou, inversamente, ajudando no reflorestamento. Outras opções, como captura e sequestro de carbono para armazenar CO2 no subsolo e removê-lo da atmosfera, também podem ajudar.

A mitigação das mudanças climáticas é vital para conter os danos que estamos causando ao planeta. Mas mesmo se estabilizássemos as emissões de gases de efeito estufa hoje, o mundo continuaria esquentando, bem além de 2oC. Atualmente, estamos mais propensos a caminhar para um futuro de 3-4oC do que os desejados 1,5oC. Isso significa que continuaremos a ver os efeitos adversos crescentes das mudanças climáticas.


Adaptação às mudanças climáticas

Por esse motivo, a adaptação às mudanças climáticas é outro imperativo. Devemos nos adaptar aos eventos atuais e futuros esperados associados com um clima em mudança. Isso significa antecipar os efeitos negativos das mudanças climáticas e melhor gerenciar suas consequências.

São abundantes as ações para se adaptar melhor a um planeta em aquecimento. Elas incluem o planejamento dos espaços onde vivemos para que possamos lidar melhor com verões mais quentes e chuvas mais intensas, intercalados com períodos cada vez mais longos de seca. Os exemplos variam desde projetar cidades para se manterem mais frescas utilizando espaço de ventilação natural e cores e materiais que refletem a luz solar, até a criação de mais espaços verdes que ativamente resfriam as cidades, incluindo parques e telhados ecológicos.

Outro exemplo inclui o uso de materiais de construção que podem suportar tempestades de granizo mais intensas ou sofrer menos danos quando inundam. Mas existem novos exemplos inovadores, como casas móveis ou flutuantes que podem subir conforme as enchentes vêm, ou abordagens mais radicais como realocar cidades vulneráveis ou passar por uma retirada controlada.


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A adaptação às mudanças climáticas, assim com a mitigação, é uma questão de todos. A Zurich Flood Resilience Alliance destacou que, para cada US$1 investido na construção de resiliência, US$5 em futuras perdas podem ser evitados. Isso significa que precisamos considerar onde e como construir, escolher cuidadosamente novos locais com as mudanças climáticas em mente ou aderindo a códigos de construção mais elevados e utilizando materiais de construção que são mais capazes de, literalmente, resistir a tempestades.

Também deve incluir proteção financeira e transferência de risco, como seguro de propriedade que cobre desastres naturais como inundações ou tempestades. A transferência de risco é uma medida de proteção tradicional, mas só pode funcionar de forma sustentável se os riscos forem gerenciados e reduzidos ou eliminados sempre que possível. Se isso não for feito, o custo do risco aumentará à medida que as mudanças climáticas se intensificam. Pode se tornar inacessível. Existem ações que podem beneficiar tanto a mitigação quanto a adaptação às mudanças climáticas. Elas começam garantindo que uma ação residente principalmente em uma categoria - como proteção contra enchentes no espaço de adaptação - não prejudique a outra, neste caso a mitigação. Isso pode significar garantir que a proteção contra enchentes não seja construída como um dique de concreto que se abre sobre o espaço verde, em vez disso, uma solução mais ecológica baseada na natureza é preferida.

Existem também exemplos que atingem tanto a mitigação quanto a adaptação ao mesmo tempo. Por exemplo, fortalecer as linhas costeiras através do reestabelecimento de pântanos e florestas de mangue. Isso adapta a região para o aparecimento de tempestades mais intensas, mas também atua como um absorvedor de CO2.


Qual é mais importante: mitigação ou adaptação?

Na Zurich, consideramos a mitigação e a adaptação igualmente importantes e ambas devem receber o financiamento e a atenção adequados. Como parte do nosso comprometimento com o Compromisso de Ambição de Negócios do Pacto Global da ONU, que tem como objetivo limitar o aumento da temperatura global em 1,5ºC, incorporamos a sustentabilidade em todos os aspectos de nossos negócios.


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Isso inclui nossa subscrição, serviços, investimentos, operações assim como nossos esforços através da Zurich Flood Resilience Alliance, impulsionada pela Z Zurich Foundation, e o projeto de reflorestamento da Zurich Florest com o Instituto Terra, aqui no Brasil.

Se falharmos em mitigar e nos adaptar adequadamente às mudanças climáticas, as perdas para a sociedade e para a economia se tornarão muito, muito dolorosas e consumirão grandes porções do PIB. Perdas de eventos que são atualmente estatisticamente esperados a cada 50 a 100 anos podem se tornar eventos de perda que encontraremos a cada 10 a 20 anos.

E, infelizmente, serão as populações mais pobres e marginalizadas que sofrerão o maior impacto da crise climática.