Como é se assumir gay no escritório?

Diversidade e InclusãoArtigo7 de junho de 2021

Decidir se assumir no trabalho não é fácil. Mas não sair do armário pode trazer a infelicidade profissionalmente. Então, como podemos tornar o ambiente de trabalho mais inclusivo?

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Por Sean McAllister

“Em qualquer segunda-feira, quando perguntado sobre como foi meu fim de semana, certamente não responderia certo essa pergunta‘’. Posso simplesmente ter ido ao cinema com meu namorado, mas não me sentia confortável em compartilhar essa informação. Minha preocupação estava no impacto que ‘me assumir’ poderia ter na minha carreira.”

Esta foi a experiência de Travis Dominguez quando ele entrou no escritório da Zurich North America em Schaumburg, Illinois, em 2013. E é isso que muitas pessoas da comunidade lésbica, gay, bissexual e transgênero (LGBT+) continuam enfrentando.

Um relatório da Human Rights Campaign Foundation chamado ‘A Workplace Divided’ (Um Local de Trabalho Dividido), revelou que 48% dos funcionários LGBT+ nos EUA não saíam do armário no trabalho devido a preocupações sobre a reação de seus colegas de trabalho, supervisores e outros líderes.

A Zurich conta com iniciativas internas de diversidade e inclusão, e aposta em um ambiente colaborativo e que busca mais equidade. Por isso, nesse artigo, demos voz para alguns zurichers que pertencem à comunidade para compartilhar suas experiências corporativas.

“Quando você cresce na comunidade LGBT+, você aprende ter um pouco mais de cuidado e a tentar sentir as pessoas. E como um californiano vindo trabalhar na Suíça, estava naturalmente um pouco preocupado em me expor”, disse Mohammad R., que entrou em Zurich em julho de 2019.

Wen Lin diz que entrou no “modo de observação” quando entrou na Zurich, há seis anos. “Às vezes, ouvia algumas coisas insensíveis no trabalho, o que me causava um dilema: devo corrigi-los ou ficar quieto?”

Wen prontamente ajudou no lançamento do PrideZ – uma rede de funcionários para a comunidade LGBT+ na Suíça. Embora ele nunca tenha contado a seu supervisor ou equipe direta.

“Tive que organizar um evento, então perguntei ao meu gerente se poderia tirar algumas horas de folga. Ele queria saber o porquê, então, disse a ele, hesitante, que era para o PrideZ. Mas sua resposta foi uma reviravolta em minha carreira na Zurich”, disse Wen.

“Ele me agradeceu por confiar nele, apoiou-me de uma forma incrível e me incentivou a me destacar e ser quem eu era. Isso aumentou minha moral e foi um grande alívio ser autêntico no trabalho. Com essa nova energia, me senti mais conectado à Zurich como empregadora.”

No Brasil, também conversamos com alguns colaboradores para que expressassem mais do seu dia a dia por aqui.

Falamos com Estefany Brito Santos, que trabalha na área de Programas Internacionais da Zurich há mais de dois anos e faz parte do programa de diversidade e inclusão, o PrideZ. Estefany destacou que desde o processo seletivo as iniciativas internas da Zurich foram evidenciadas, o que a deixou mais confortável em poder se expressar, que a relação com sua equipe é transparente e respeitosa, e que existe também uma relação de amizade de seus colegas de trabalho com sua noiva!

Outro momento marcante e que Santos destacou como emocionante foi o evento realizado em 2019, uma roda de conversa para pessoas trans e travestis que contou com tantos colaboradores que foi necessário até trocar de sala para comportar todos os ouvintes!


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"As ações de diversidade são extremamente enriquecedoras. Mais do que aprender, sinto que as iniciativas, aos poucos, vão mudando outras pessoas ao meu redor, sempre a fim de melhorar e se desconstruir”

Ressalta Estefany Brito Santos


Outro colaborador que dividiu suas vivências foi Romulo de Souza, Analista do Canal de Vendas, que é um zuricher há seis anos, e conta que nunca escondeu quem realmente é.


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“A vida é um constante aprendizado e saber que temos um grupo que visa a diversidade e inclusão faz toda diferença, nos dá força para continuar e mostrar que temos voz e não somos apenas um ‘grupinho’”

Ressalta Romulo de Souza


Destacou que ainda há muito a ser feito nas próximas ações do PrideZ, e que sempre há espaço para fomentar as discussões com informação e conhecimento.

Por fim, Philippi Rodrigues, Assessor Comercial da filial de Recife conta que apesar de pertencer à comunidade LGBTQIA+, está em constante aprendizado sobre cada letra da sigla, pois é necessário que todos sejam aliados nessa causa.


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“Ações como a cartilha servem para que as pessoas entendam e respeitem o nosso grupo, compreendam que somos iguais na nossa individualidade e combatem às pequenas agressões que ouvimos no nosso dia a dia, que são tratadas como piadas. Ajudam para que haja respeito entre os colegas, pois tolerar não é o bastante.”


O preço de não sair do armário

A experiência de Wen mostra como os funcionários LGBTQIA+ ficam mais engajados, produtivos e felizes quando podem ser autênticos no trabalho e não se sentem forçados a ficar no armário.

“Eu tinha toda essa energia contida simplesmente porque estava tentando decidir o que era seguro compartilhar”, lembra Travis. “Isso me impediu de ter relacionamentos de confiança com meus colegas de trabalho. E a confiança definitivamente cria a segurança de que os funcionários precisam para falar ou fazer sugestões para tornar qualquer negócio bem-sucedido.”

Travis notou uma grande mudança na Zurich nos últimos anos. “Os medos que eu tinha não existem mais”, afirmou. “Tenho liberdade para trazer todo o meu potencial para o trabalho e até mesmo fazer piadas casuais com meu novo gerente, por exemplo, sobre usar minha experiência de gerente de projeto para orientar as ideias de casamento que eu e meu noivo estamos considerando.”

Um ambiente mais inclusivo foi criado em parte por iniciativas introduzidas pela Zurich para manter uma abordagem de tolerância zero ao assédio e tratamento discriminatório, mas uma mudança significativa ocorreu quando foi lançado o PrideZ em dezembro de 2016.

PrideZ é uma aliança global de redes de funcionários LGBTQIA+ que fornecem um ambiente seguro para discutir tópicos sobre o tema, além de ser possível se conectar com outros membros. Ela tem o apoio do patrocinador executivo Urban Angehrn, Diretor de Investimentos do grupo, que dá à rede o poder de promover mudanças reais.


Criando aliados

Apesar do progresso significativo, a Zurich pretende fazer outra mudança radical para realmente semear um clima de inclusão. E a chave para essa transformação é o Programa Global de Aliados.

O programa foi lançado em dezembro de 2019 para criar uma rede de defensores, ou aliados, em toda a empresa para aumentar o diálogo e a visibilidade da comunidade LGBTQIA+, além de contestar quaisquer percepções negativas.

“Eu me manifesto quando vejo injustiça e discriminação ou tenho a oportunidade de instruir e defender, mesmo quando não for confortável”, diz Diana Wirkus, aliada e ex-líder do PrideZ na Zurich nos Estados Unidos.

Como líder de equipe, Diana sente que todos os gerentes devem agir como aliados de seus funcionários. E tendo Travis como um membro de sua equipe, ela naturalmente queria apoiar a comunidade e teve tempo para se instruir.

"Já me perguntaram por que celebramos o orgulho gay na Zurich, e respondi: ‘Você tem fotos de sua família na sua mesa? Imagine não se sentir confortável ao compartilhar suas fotos de família porque você pode ser julgado por ter um relacionamento homoafetivo?”


Orgulhando-se no trabalho

John Liu tornou-se patrocinador executivo do PrideZ Brasil em 2016 e mais tarde se juntou ao Programa Global de Aliados. “Muitos membros da comunidade LGBTQIA+ não se sentiam confortáveis em se assumir no trabalho e até estavam céticos quando lançamos o PrideZ no Brasil.”

Mas muita coisa mudou. Em 2019, a Zurich Brasil foi a seguradora oficial da Parada do Orgulho LGBTQ+ de São Paulo – uma das maiores do mundo – de 2019 e, em junho de 2020, foi reconhecida como uma das empresas mais inclusivas do país pela conceituada revista de negócios Exame.

Além de conhecer a maior festa de rua de São Paulo, John também fez uma jornada pessoal. “Antes de entrar no PrideZ, eu não entendia os desafios enfrentados pela comunidade LGBTQIA+ dentro e fora do trabalho”, diz.

“Aprendi a me conscientizar sobre os viéses inconscientes. Uso uma linguagem mais inclusiva e minha atitude em relação à comunidade LGBTQIA+ evoluiu. Agora, promovo ativamente uma atitude mais inclusiva no trabalho, bem como com minha família e amigos em casa”, afirma.