Como as empresas podem se tornar mais fortes e resilientes a crises futuras?

Riscos e resiliênciaArtigo4 de fevereiro de 2022

A pandemia da COVID-19 gerou desafios, mas também criou oportunidades para as empresas se prepararem melhor para futuras crises.

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Há apenas alguns meses, muitas das principais empresas do mundo e formuladores de políticas viram 2022 como o ano em que o mundo finalmente se livraria dos efeitos devastadores da COVID-19, que marcaria o restabelecimento de mercados de trabalho em pleno funcionamento, a recuperação das cadeias de suprimentos e o retorno ao crescimento econômico.

O crescimento da variante Ômicron e o progresso desigual na vacinação adiaram essa esperança, ao levantar novas questões sobre uma recuperação desigual e, com ela, a capacidade do mundo de lidar com questões urgentes, como mudanças climáticas, justiça social, risco cibernético e tensões geopolíticas.

De acordo com o Relatório de Riscos Globais do Fórum Econômico Mundial deste ano, publicado em parceria com a Zurich, mais de 37% dos entrevistados acreditam que o mundo seguirá uma trajetória fragmentada no médio prazo. Menos de 11% acreditam que a recuperação global irá acelerar nos próximos três anos.

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“Problemas econômicos, geopolíticos, de saúde pública e sociais (que aumentam após pandemias) correm o risco de levar a abordagens divergentes e atrasadas para desafios críticos enfrentados pelas pessoas e pelo planeta”, afirma o relatório.

Nesse contexto, John Scott, Head de Riscos de Sustentabilidade na Zurich, argumenta que as empresas podem se tornar mais fortes e mais resilientes a crises futuras aprendendo com as lições da pandemia do coronavírus e podem se tornar mais passíveis a mudanças.

“Muitas empresas pensam em resiliência em termos de defesas árduas, como uma rocha que resiste às ondas”, diz Scott. “Mas, muitas vezes, a resiliência é ser flexível.

Uma oportunidade para as empresas desenvolverem essa resiliência adaptativa está nas cadeias de suprimentos, que foram atingidas pela pandemia. John Corless, Head de Riscos de Resiliência de Negócios na Zurich, diz que as empresas devem estar atentas não apenas a como reconstruir as estruturas existentes, mas também como podem estabelecer alternativas em caso de rupturas futuras.

“A entrega just-in-time eliminou a gordura das cadeias de suprimentos, mas, em tempos de crise, essa gordura poderia atuar como amortecedor na cadeia”, diz Corless. “A pandemia é um lembrete de que você precisa começar a pensar em projetar maior resiliência em sua operação existente”.

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Uma segunda oportunidade para construir maior resiliência é reexaminar os planos de contingência e, principalmente, impulsionar, ainda mais e de forma mais agressiva do que antes, suas premissas de cenário de interrupção de negócios. “As organizações fazem suposições, mas essas suposições envelhecem e não são desafiadas, reavaliadas ou atualizadas com a frequência que deveriam”, diz Corless. “A pandemia foi um alerta para realmente começar a pensar e impulsionar as suposições do cenário de interrupção de forma mais agressiva”.

Em última análise, essas suposições abrangem muitas questões e temas. Mas um exemplo é a rápida aceleração da digitalização que as organizações passaram com a equipe agora trabalhando remotamente e foram armazenados mais dados do que nunca na nuvem.

“Todos nós já nos acostumamos à computação e aos serviços de dados baseados em nuvem, mas as empresas precisam entender e controlar o que essas mudanças significam para suas operações, além de identificar quais são os novos pontos de aperto”, argumenta Corless. “A menos que tenhamos uma compreensão clara e completa disso em tempo real, será muito difícil desenvolver resiliência”.

A verdadeira resiliência a crises futuras dentro de uma economia envolve necessariamente uma resposta de “toda a sociedade”, desde governos centrais e locais a empresas e comunidades.

Como parte dessa resposta, Scott da Zurich, diz que as empresas podem desempenhar um papel fundamental melhorando a comunicação e a coordenação com as comunidades, o que também ajuda a fortalecer seus compromissos ambientais, sociais e de governança (ESG).

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Um exemplo, diz ele, é se uma empresa investiu em tornar suas instalações resistentes a inundações sem tomar medidas para garantir que a comunidade em geral também fosse protegida. “Você está na comunidade, sua força de trabalho está na comunidade e seus clientes fazem parte da comunidade”, declara Scott. “Não adianta desenvolver resiliência no nível da empresa se a comunidade ao redor também não for resiliente”.

Os últimos dois anos obrigaram as empresas e outros personagens sociais a mudar, repensar e se adaptar, em muitos casos estimulando a inovação e tornando-se mais resilientes no processo. Mas, como adverte Corless da Zurich, é obrigatório que as empresas evitem o excesso de confiança, ao mesmo tempo em que entendam que o desenvolvimento de resiliência a crises futuras não para.

“Muitas empresas que passaram pela pandemia da COVID-19 podem ficar tentadas a concluir que são resilientes”, acrescenta Corless, “mas é importante reconhecer que o último grande evento não é o mesmo que o próximo grande evento”.