Ele, ela, eles ou elas? Porque a identidade de gênero e o uso de pronomes é importante para todos nós

Diversidade e InclusãoArtigo21 de junho de 2022

Para muitas pessoas, os pronomes são uma expressão da identidade de gênero. Os colaboradores da Zurich Reino Unido, Mickey Elliott e Orion Russell, explicam como o uso dos pronomes apropriados é o primeiro passo em busca do respeito à identidade de gênero e criação de um mundo mais inclusivo.

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A sociedade ainda predominantemente reconhece dois gêneros: homem e mulher. Mas nem todo mundo se ajusta confortavelmente à ‘binaridade’ dessa categoria. Um número cada vez maior de pessoas está se declarando “não binárias” – um termo para pessoas que não se identificam como parte de um dos gêneros binários.

De acordo com o Centro Nacional de Igualdade aos Transgêneros, algumas pessoas possuem um gênero que mescla elementos masculinos e femininos, ou um gênero totalmente diferente. Outras não se identificam com nenhum gênero ou seu gênero muda com o passar do tempo. Isso significa que os pronomes do gênero masculino e feminino também não são adequados. É por conta disso que pronomes de gênero neutro, como “they/them”, na língua inglesa e palavras terminadas em ‘e’ ou a substituição do ‘o’ e do ‘a’ pelo ‘e’ em português estão se tornando mais comuns.

“Nunca senti que me encaixava no grupo trans e o gênero é irrelevante para mim. Eu vestia tanto roupas para homens quanto para mulheres, e tenho traços masculinos e femininos”, disse Mickey Elliott, colaboradora da Zurich Reino Unido que usa os pronomes “ela” / dela, e o título de “Sx.” (ao invés de Sr., Sra. ou Srta.). “As pessoas podem usar os pronomes femininos ou masculinos e também se identificar como não-binários(as). Usar um pronome não é um pré-requisito”, acrescenta ela.

“Isso não é para meninos”, seria a resposta da minha mãe 30 anos atrás, se eu pedisse para ela comprar o vestido da Bela na Loja da Disney para mim”, afirmou Orion Russell, colaborador(a) na Zurich Reino Unido, que utiliza pronomes indefinidos.

“Meu maior desafio é o da masculinidade tóxica, incluindo frases como ‘seja homem’, quando me apresento como homem, mas não me encaixo no estereótipo masculino”, sorri Orion, que com 1,88 metros de altura, também é pole dancer e drag.

As histórias de Orion e Mickey têm uma coisa em comum - encontrar seu lugar em um mundo que adora rotular e colocar as pessoas em grupos onde elas se encaixam perfeitamente.

Na adolescência, Orion percebeu que não estava na mesma “onda” de vários de seus amigos e amigas. “Eu sofria de disforia de gênero e corpo, ao ponto de ter seriamente considerado realizar a transição para o sexo feminino. No fim das contas, não fui adiante e, há alguns anos, conheci duas mulheres transgêneros que também eram drag queens. Observando-as em sua jornada, sentindo-se confortáveis consigo mesmas, independentemente de como o mundo as via, foi o que me inspirou a encontrar meu verdadeiro eu. Comecei a ser drag em casa, com elas e com meu parceiro, até que finalmente ser drag e minha identidade masculina se fundiram, e fiquei em algum lugar no meio”, afirmou Orion.

Mickey diz que ela ainda está no começo de sua jornada como ser humano. “Cresci nos anos 80 e 90 como Tom. O artigo 28 da legislação no Reino Unido, aprovada em 1988, tornou ilegal a promoção da homossexualidade pelas escolas. Isso não nos tornou menos gays, só nos deixou mais isoladas, incapazes de conseguir o apoio e o aconselhamento de que precisávamos. Na época eu achava que era lésbica e não sabia que gênero e sexualidade poderiam ser duas questões distintas. Quando conheci meu marido e tive um bebê, estava determinada a permitir que meu filho fizesse o que ele quisesse. Nos últimos anos, à medida que a conversa e a linguagem evoluíram, de repente apareceu uma descrição de como eu me sinto. Tenho colegas para conversar que me entendem”.

Gênero versus Sexo

Os termos “sexo” e “gênero” são frequentemente utilizados com o mesmo significado, mas são conceitos diferentes.

O sexo é atribuído ao nascimento e se refere aos aspectos biológicos de um indivíduo conforme determinado por sua anatomia e composição cromossômica. Tipicamente, sexo masculino, feminino ou intersexo.

O gênero tem a ver com como uma pessoa se identifica, não de uma forma binária. Muito pelo contrário, o gênero possui um espectro mais amplo. Identidade de gênero é uma percepção pessoal e interna de si mesmo e, portanto, o gênero pode não combinar com o sexo atribuído ao nascimento.

Não binários no local de trabalho

A maioria dos locais de trabalho ainda não são amigáveis com pessoas não binárias. A linguagem usada na documentação geralmente se refere ao masculino ou feminino, e mesmo os banheiros se mostram um desafio para pessoas não binárias quando identificados simplesmente como “homem” e “mulher”.

“Não seria bom se em uma empresa um gerente dissesse seu nome e pronomes e depois perguntasse ao novo funcionário seu nome?” indaga Orion. “Sempre que me perguntam qual pronome de tratamento devem usar comigo, me sinto especial e querida.” 

Muitos sistemas no local de trabalho podem trazer dificuldade às pessoas não binárias para se auto identificar. Por exemplo, pode ser pedido o “sexo atribuído ao nascimento” ao invés da identidade de gênero. Além das questões de aceitação, esse aspecto torna difícil para uma empresa compreender a verdadeira diversidade da força de trabalho.

“Na minha carteira de motorista, meu pronome de tratamento é Srx, mas em oito de cada 10 formulários que preencho, não existe essa opção. Imagine preencher um formulário, onde você só pode selecionar um dos três primeiros nomes, sendo que nenhum deles é o seu”, indaga Mickey.

Mas, na medida que a aceitação e confiança aumentam, a mudança segue a passos lentos.

“Sempre tive gerentes compreensivos, que, ao me enviar uma carta em nome de meu empregador, conseguiram mudar manualmente e corrigir meu pronome de tratamento” conta Mickey. Talvez eles tenham sido educados pelo guia de inclusão e diversidade da Zurich Reino Unido que possui uma seção sobre identidades não binárias.

Na verdade, muitos colaboradores da Zurich Reino Unido, seguindo o exemplo da equipe de liderança do Reino Unido, adicionaram seus pronomes a sua assinatura de e-mail, junto com um link para ‘porque isto está aqui’ – um guia explicando como o compartilhamento de seus pronomes de gênero no trabalho é “um dos pilares de uma cultura inclusiva”. 

“As pessoas trans e não binárias não estão usando os mesmos pronomes para serem ‘exclusivas’”. Quando as pessoas entendem isso, geralmente ficam felizes em compartilhar seus pronomes”, explica Marianne Cowie, Co-Presidente Global da comunidade PrideZ da Zurich.

Criando mais inclusão

Adicionar pronomes em sua assinatura de e-mail ou perfis de mídia social pode ajudar a normalizar o compartilhamento dos pronomes de gênero, mas como podemos ser mais inclusivos com pessoas não binárias? “Primeiro, não presuma o uso dos pronomes de alguém, da mesma forma que não dá para adivinhar o nome de alguém pela aparência”, afirma Marianne

“Pode ser bastante difícil quando você vê alguém que parece um homem, mas está com maquiagem nos olhos e tem unhas lindas”, disse Mickey. “Simplesmente diga: – Nossa, que unhas lindas; como posso me referir a você?”.

E não se preocupe se você errar, acrescenta Mickey:  As pessoas sempre erram o gênero de cachorros e bebês. Se você errar, desculpe-se e continue”.

Conforme os níveis de aceitação continuam a crescer, Orion acredita que mais pessoas irão levar em consideração sua própria identidade. “As pessoas que podem ter reprimido seu verdadeiro eu no passado, por ser mais conveniente fazê-lo, podem se sentir mais confortáveis falando sobre isso e até mesmo questionando os próprios pronomes que usam”, acrescenta.

O que Mickey e Orion gostariam que os leitores aprendessem com sua entrevista e quais conselhos dariam a qualquer pessoa que esteja iniciando sua jornada não binária?

“Não importa como alguém se apresenta, não faça suposições”. Parece complicado, mas só me pergunte quem eu sou. Somos todos apenas humanos”, diz Mickey.

Desde que isso seja feito com respeito, não há problema em errar, até eles mesmos às vezes erram. No final das contas, todos temos uma coisa em comum: não importa como nós nos identificamos, ou quais pronomes usamos - todos somos apenas seres humanos em sua jornada de vida.